24.3.17

Não vá.
Eu quero te contar o que aconteceu
Quero falar de quantas vezes pensar em você me ajudou a não desistir
Quero ouvir mais sobre seus sentimentos e vontades, e menos sobre as outras pessoas
Quero sentir que temos coisas compartilhadas
Acima de tudo, quero te olhar e saber que, naquele momento, estamos completas
Tenho pavor do que não está por inteiro, entende?
Meias palavras
Conversas interrompidas
Interações meio apressadas onde não cabem os pensamentos não-imediatos
Pensamentos que importam.

Você não percebe que, quando você vai,
perdemos partes de nossas histórias?
Elas estavam lá, esperando para serem contadas,
e quando você solta uma ponta do fio, essas contas caem no infinito silêncio
e sobra apenas a frieza do vazio
Frustração
e silêncio, o maldito silêncio.

Eu preciso de alguma naturalidade
Porque quando sorrio, sinto a máscara repuxando minha pele
Sinto raiva por não conseguir nada além de uma imagem pálida e fria do que sei que podemos ter
Raiva por não me satisfazer com tão pouco
Raiva por achar que é tão pouco
Raiva por ter raiva

Mas não pense que com isso eu estou exigindo mais
Não pense que não sei que você simplesmente não pode
Só estou tentando me justificar
Racionalizar a raiva, talvez
E só talvez, tentando atingir algo doce em você
Algo mais quente e mais vivo.

28.8.16

Aranha

Eu olhava para A Aranha todos os dias. Sabia onde era seu território e a tinha com indiferença, guardando certa distância respeitosa. Mas um dia ela sumiu. Então desejei ter prestado mais atenção nela. Era grande? Peçonhenta? Tinha hábitos noturnos ou diurnos? 
O que realmente observara sobre ela era apenas sua existência. E, pela primeira vez, eu não mais a via. Não sabia o tamanho da ameaça. Tal desconhecimento me engatilhou um estado de alerta constante no cérebro. Medo, frustração e arrependimento geraram cansaço, impotência e tristeza. 
O vazio d'A Aranha, porém, não fez mais que despertar pensamentos covardes. Isso porque não importa onde ela está: importa que ela exista e que existam muitas outras Aranhas e até Coisas Piores. E nenhuma delas me matou, o que acaba por definir minha existência, de certa forma. Sou aquela que sobrevive, e enquanto o fizer, é óbvio que nada me atingirá fatalmente. Tudo que existe há de ter recuperação.

18.8.16

Frágil

Não quero mais chorar
Mas acaba comigo ouvir uma voz no telefone tão fraca,
Tão forte para não me preocupar.
(um trago)
Acaba comigo pensar que minha Vida está longe
Longe no futuro,
fora da minha vida, que se dilatara em um ninho.
(dor de cabeça)
O rio segue seu curso sob os cipós
que me atam as mãos
que me apertam a garganta
Apertam o nó, e não vejo mais nada
[não fossem as amarras, talvez apreciasse o belo rio]
Apertam-me o nó da garganta
(choro)

18.11.15

Uma tarde lenta

Você diz que nunca provou, ainda que o aroma lhe atraia. O que lhe impede? Minha pergunta escapa por entre um sorriso. Costume, Costumes são moldados, É verdade. Seu olhar suspira enquanto baixa para a mesa e então para meus dedos dançando em torno da xícara já vazia. Mesmo os costumes criados por outros são moldáveis por nós. A última palavra sai lhe curvando os lábios, prontos para explodir em sua ousadia vermelha. Essa ousadia é aquela que abraça qualquer amargura, incorpora-a e a transforma de arma em estandarte.
Meus lábios carregam traços amargos já acostumados. Entenda quando digo que eles não podem resistir a tal promessa de redenção. Eles se apressam em sorver a ousadia ao tomar um beijo vermelho, e a pressa se torna uma maciez quente.



7.11.15

A Ela

"(...) como não apaixonar pelo cheiro dela, pelo beijo dela, pelo jeito dela de me abraçar?"

Foi muito rápido: por acaso nos encontramos, por acaso nos reconhecemos, e não mais que de repente, estamos amando. 
Não sei dizer quando isso ficou claro para mim, mas sei que uma voz me sussurra "não a deixe ir", e desde então você mora em meu abraço (ou eu moro no seu?) e tudo desimporta quando sinto seu cheiro, quando a pressão do seu corpo agracia minha pele, e quando sua respiração me acalma a mente e me braseia a alma.
Não mais que de repente, você me salvou. Me ensinou que felicidade desconhece limites, porque podemos ser infinitas no amor, no carinho, no prazer, na admiração e na zoeira, é claro.
Brinco que te mudei, mas a verdade é que nos revelamos uma à outra.  Somos "deboas" e "justas" de uma forma livre, flexível e maravilhosa; porque o que importa é que eu cuido de você, e você, de mim, porque já não sei mais me bastar.
Você é literalmente tudo que eu posso querer - sim, incluindo o caos com objetos, a bobeira, as manias, a indecisão e o criticismo gastronômico -, simplesmente a pessoa mais linda, compreensiva, inteligente, insubmissa, altruísta e apaixonante que eu poderia encontrar. 
Obrigada por me encantar e me conquistar todos os dias, meu amor.

26.8.15

Conceitos

Confiança: ficar feliz em dar a alguém o poder de te ferrar.
Maturidade: dizer menos "isso não pode ser assim" do que "aceita que dói menos".
Carência: ruir a ponte entre causa e consequência.
Lucidez: ter vontades de isolamento e de violência ocasional.

28.6.15

Ódio

Não alimente os tubarões. Mude de calçada.
Escute a energia fluindo e a retenha com os olhos. Mais do que isso, sinta esta energia em seus pés chegar às suas mãos. Agradeça por ela não lhe ter chegado à cabeça. Esta deve se manter serena - não como um lago estático, mas como um poderoso mar que conhece suas ondas. Estas ondas são você, não tenha medo. O medo alimenta os tubarões.

26.4.15

Coragem

E se eu disser que te leio, e que essa é minha forma de me importar?
Preciso dizer que não foi fácil como eu faço parecer, e que foi a melhor forma que encontrei para que doesse menos, ainda que você queira diferente. Eu sei que prefere os riscos mais graves e os sabores mais profundos, mas meu jeito é sereno e calculado, sabe? Eu precisei te fazer sofrer menos que o inevitável.
Não creio que possa fazer a chuva parar, mas quero que saiba que foi bom para mim. Não apenas isso: foi tudo que eu podia querer. Pode parecer cena de um filme ruim, mas pode acreditar quando digo que o problema sou eu. Você me ajudou a descobrir coisas sobre mim, e eu preciso improvisar uma forma de lidar com isso sem ferir as pessoas.
Obrigada, e desculpe pela bagunça.

21.11.14

Vontade bastante

Perdão, não lhe posso dar o que já renunciou à vida. Você não merece um presente em putrefação. 

Tudo o que tenho são pausas, e fico tateando aqui e ali, tolamente esperando que sejam suficientes para que fique. 

O que temos são episódios mais ou menos amarrados por Algo e que não lhe dão a mínima segurança, eu sei. 

E sei também que não sabemos lidar com isso ainda. E que você espera e merece mais. 

E é verdade: eu não tenho ideia do que fazer para a história não se repetir. Eu não sei o quanto disso é da minha natureza e o quanto são das circunstâncias. 

Apesar de tudo, quero me esforçar para te fazer bem. Por favor, avise-me quando não mais puder.

21.10.14

Sobre naturalidade

Quero criar uma classe de pronomes não-possessivos
porque é lindo você não ser minha, e eu estar em você
Estarmo-nos, apenas
a desafiar espaços e gestos, vontades e descontroles
Lidando com pausas e paredes, com cheiros e texturas
E revelando filmes jamais gravados,
mas que alimentam a poesia
E avançam sob um viés manso,
pacientemente alagando noites ou dias entrecortados.

A curiosidade abriu a caixa, e está louca para ver o que tem nela.

19.9.14

À vontade

Mais que um estado, 
Perceber a liberdade de dentro transpirando 
Passear sem ter que voltar, sem itinerário e até sem ar 
Porque nosso mundo agora é líquido 
Porque tuas palavras transcendem qualquer passividade
Excitam, ondulantes, de cima a baixo e do avesso 


Criaste infinitos 
Sabendo que não os poderíamos encerrar 
E eles são arcos, são horas e são macios 
Leves, leves 


Lindo acaso de perfeito encaixe 
Mistério sem começo, 
à vontade e por vontade, 
Enredemo-nos.

7.9.14

Foda-se os riscos.


Às vezes a gente acha que sabe de alguma coisa, mas é só impressão. O seu enigma ainda não pôde se filtrar no meu caos e se destilar em letras. Mas eu sei esperar. Só não quero me demorar. See, I've already waited too long and all my hope is gone. 

29.8.14

Tempo de atrás

Reencontrar alguém depois de tantos anos é ganhar da memória nova perspectiva
é reavaliar a construção do eu
é perceber que, apensar de tudo, não é preciso ser quem se julga ser
mas tão-somente abraçar o espontâneo
Esse sim, é exatamente quem é:
ainda que se desvie em seguida, é ressignificado de modo a não faltar com a sinceridade e a verdade.

25.8.14

A fome

Mora na boca um monstro. Ele reclama amor e recebe sempre amargo (espera-se que não seja afeito a sílabas de mais ou de menos ou a recomendações médicas). Talvez por isso seja dado a meias palavras: quer conservar o amargo, seu amargo, dentro de si a todo momento. As palavras acabam por saírem adocicadas, mas o pensamento, vizinho à boca, se inebria aos poucos - o amargo conforta.
Toleram bem a ganância do monstro, mas esperam que se permita novos sabores; não gostam dele como é. Curioso é ninguém ter-se arriscado a destruí-lo. Nunca.

5.8.14

Cidade

Hoje acordei com a rua e o coração concretados
Mas não há nada que um amargo na língua não requente
O mundo está vago,
todos miseravelmente imploram para o dia não começar
Barganham ainda, prometem a alma que - não sabem -
está perdida há muito
Encomendada.
Caminhando, incomoda-me a aspereza nos olhos
Bem treinados, prontos e ansiosos para julgar e desdenhar...
as mãos, incapazes de tais vilezas, retiram-se envergonhadas e frias,
sempre se desculpando pela falta
de jeito
de coragem
de esperança
de loucura até.

Tenho uma confissão: não sou daqui.
Não que seja de outro lugar mas, de alguma forma,
é reconfortante saber que não pertenço.

14.7.14

Desafio

Falho. Falhaste. Falhemos.
Crises semióticas por ruído crónico.

O mundo fez a seiva vermelha
e também a isolou do calor
tão efectivamente que não há lição
Há não mais que pulsos abafados
e desejo esbaforido em desaforo.
Pura afronta. Estafante e forçosamente levada a cabo
ou a meio, desnuda
Crendo em vida outra, em existência
que se há de arranjar por fim
mais além do rio caudaloso das ideias.

Sane

Feel like moving the Earth
Thou stuck in a craving
Better. For best
Done licking an old skin,
attached for comfort. Numbness
Relentlessly overcoming
again and again
the claws of ownership
Sensing and shivering
Solitude.

17.5.14

Meu vício

Palavra nunca me gostou
Sempre me foi mais desalento que liberdade
alegoria da Dor Perpétua
comprazentemente chafurdante no escárnio
É quase uma companhia interna e ausente:
Ora me espreita indelicadamente,
ora me perco
sem seu peso na existência,
nos braços que só sangram quando a servem de ninho.
E ela se aninha.
E me dilacera a calma com seu jeito de infinito
E turva tudo que é branco com unhas inexpugnáveis em carne tenra
solo pouco semeado
fraco demais para conceber.

Minha Palavra felina então me ordena mais um cafezinho.


21.4.14

Interlúdio

O frio da alma distraiu-se
Mas, ao final do leão,
Pouco se lhes dá se o matei, espantei
ou amei
Ou se coexistimos.
Calo-me, que o silêncio semeia pântanos.

4.4.14

Brevemente

Hoje é mais um dos seus dias
Imaginei dizer um milhão de coisas
mas você as ouvirá nos momentos certos

Ou nos errados, que eu também estarei aqui
ou aí
(a gente nunca prevê esses lances de alma, né)

Enfim, isso é só para dizer o que você sabe há anos:
Conte comigo, que eu me conto contigo.

Felicidades e muita luz sempre, meu amor.