28.8.16

Aranha

Eu olhava para A Aranha todos os dias. Sabia onde era seu território e a tinha com indiferença, guardando certa distância respeitosa. Mas um dia ela sumiu. Então desejei ter prestado mais atenção nela. Era grande? Peçonhenta? Tinha hábitos noturnos ou diurnos? 
O que realmente observara sobre ela era apenas sua existência. E, pela primeira vez, eu não mais a via. Não sabia o tamanho da ameaça. Tal desconhecimento me engatilhou um estado de alerta constante no cérebro. Medo, frustração e arrependimento geraram cansaço, impotência e tristeza. 
O vazio d'A Aranha, porém, não fez mais que despertar pensamentos covardes. Isso porque não importa onde ela está: importa que ela exista e que existam muitas outras Aranhas e até Coisas Piores. E nenhuma delas me matou, o que acaba por definir minha existência, de certa forma. Sou aquela que sobrevive, e enquanto o fizer, é óbvio que nada me atingirá fatalmente. Tudo que existe há de ter recuperação.

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