7.2.12

Um minuto

Estava tão entediada que poderia até mesmo telefonar para alguém, mas simplesmente não havia ninguém. A solidão sempre a afagou mais ternamente do que qualquer outra mão. Pessoas eram impiedosas, mas a ausência e o silêncio podiam ser ignorados. Ideias soltas a atormentavam novamente. Desde que substituíra o chá pelo café, sua mente meio que desgovernara. Só haviam pequenas colisões. Comum demais. Nova decoração. Queria saber desenhar. Ou cantar. Poderia aprender algum tipo de luta, nunca se sabe. Se tivesse amigos, aprenderia a jogar baralho. Bilhar também. Meu Deus, que menina linda (e nunca vai olhar para mim). Queria perguntar-lhe quais os livros que mudaram sua vida, quais músicas a desligam do mundo, quais filmes a fazem chorar, quais lugares lhe arrancam suspiros. Levantou-se e partiu. Um time qualquer fez gol, e agora idiotas semianalfabetos com contas atrasadas e filhos mortos por uns trocados ou por usar a camisa do time errado gritam em euforia como se naquele instante tudo estivesse bem, como se não tivesse que acordar às 4 da manhã e trabalhar como um escravo até a noite para passar menos fome. Náusea. Vontade de fumar. Liga a cafeteira. E desliga a lógica, que é para não acabar num sanatório.

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